Na Time, Lula diz que Zelenski é tão responsável quanto Putin pela guerra da Ucrânia
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse à revista americana Time que considera o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, tão responsável quanto o russo Vladimir Putin pela guerra em seu país.
Ele também afirmou que os EUA e a União Europeia estimularam o conflito e ainda fez duras críticas à ONU, que, segundo ele, “não representa mais nada” e “não é levada a sério pelos governantes”.
Na entrevista, concedida no fim de março e publicada nesta quarta-feira (4), Lula disse que Zelenski poderia ter negociado mais com a Rússia, mas acabou transformando o conflito em um espetáculo.
”Fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado”, afirmou.
A Time adiantou sua capa nesta quarta, segundo a qual Lula prepara seu “segundo ato”, a nova etapa de sua vida política. No enunciado, a revista afirma que o “presidente mais popular do Brasil retorna do exílio político com uma promessa de salvar a nação”. Questionado pela publicação sobre a Guerra da Ucrânia, Lula condenou a invasão de Putin, mas acrescentou que ele não é o único responsável.
“Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a Otan? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na Otan’. Estaria resolvido o problema”, disse.
Para o petista, a União Europeia, a Otan e Zelenski deveriam ter negociado por mais tempo com o Kremlin para evitar o conflito. Lula também criticou o líder ucraniano, dizendo que ele tem “um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo”. “Ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no Parlamento inglês, no alemão, no francês, como se estivesse fazendo uma campanha. Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação.”
Zelenski, diz Lula, “quis a guerra”. “Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo.”
O brasileiro afirmou ainda que o presidente dos EUA, Joe Biden, “está vivendo um momento difícil” e não tomou a decisão correta na guerra. “Os Estados Unidos têm um peso muito grande, e ele poderia evitar isso, não estimular. Poderia ter falado mais, poderia ter participado mais, o Biden poderia ter pegado um avião e descido em Moscou para conversar com o Putin. É esta atitude que se espera de um líder. Que ele tenha interferência para que as coisas não aconteçam de forma atabalhoada. E eu acho que ele não fez.”
Nesse momento, Lula lembrou o reconhecimento dos EUA e da União Europeia ao opositor venezuelano Juan Guaidó, em 2019. “Você não brinca com democracia. O Guaidó para ser presidente da Venezuela teria que ser eleito. A burocracia não substitui a política”, afirmou.
O petista disse ainda que a ONU não é levada a sério —a publicação da declaração ocorre seis dias depois de um comitê do organismo ter concluído que ele foi vítima de um julgamento parcial na Lava Jato. “É urgente e é preciso criar uma nova governança mundial. A ONU de hoje não representa mais nada. A ONU de hoje não é levada a sério pelos governantes. Cada um toma decisão sem respeitar a ONU.”
Provocado pela defesa de Lula, o Comitê de Direitos Humanos da ONU se manifestou, em 28 de abril, afirmando que os procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro foram parciais nos casos investigados contra Lula.
Folha Online