Militares querem poder até 2035, mensalidade em universidade e fim do SUS gratuito
Um documento intitulado Projeto de Nação, concluído em fevereiro e lançado semana passada com a presença do vice-presidente Hamilton Mourão, projeta o país com a manutenção do bolsonarismo pelos próximos 13 anos. O “Projeto de Nação – o Brasil em 2035 “, elaborado pelos militares dos institutos General Villas Boas, Sagres e Federalistas, trata de temas como “integração da Amazônia no Brasil” e cobrança de mensalidade em universidades públicas e no Sistema Único de Saúde (SUS).
O propósito das sugestões, segundo os autores, é “legar um Brasil melhor aos nossos filhos e netos”. O texto, de 93 páginas, divide-se em sete eixos temáticos: geopolítica mundial; governança nacional; desenvolvimento nacional; ciência, tecnologia e educação; saúde, e segurança e defesa nacional.
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Apontado pelos militares, na publicação, como principal ameaça ao Brasil na política externa, o chamado “movimento globalista” é descrito como um conjunto de forças “cujo objetivo é determinar, dirigir e controlar as relações entre as nações e entre os próprios cidadãos, por meio de posições, atitudes, intervenções e imposições de caráter autoritário, porém disfarçados como socialmente corretos e necessários”.
No item referente à Amazônia, os militares propõem flexibilização nas legislações referentes à exploração de minérios, bem como a regulamentação da participação do capital estrangeiro nessas atividades. O documento diz que é preciso “remover as restrições da legislação indígena e ambiental, que se conclua serem radicais nas áreas atrativas do agronegócio e da mineração”.
O projeto foi coordenado pelo general Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-presidente do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), a ONG do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o primeiro militar brasileiro condenado por tortura e personagem constantemente elogiado pelo presidente Jair Bolsonaro e por Hamilton Mourão.
Como se estivesse fazendo uma avaliação do cenário do país em 2035, o texto diz que, “nas últimas duas décadas, sucessivas manifestações de grande porte tiveram, como ator coletivo, significativa parcela do povo que hoje se identifica como conservador e liberal, pressionando por mudanças estruturais no sistema de educação e no sistema político, em um processo que culminou com o despontar de novas lideranças”.
Segundo a publicação, essas novas lideranças ocuparam importantes espaços onde “antes prevaleciam as antigas lideranças patrimonialistas e fisiológicas, em grande medida envolvidas em corrupção”.
“Ainda existem nichos em que essas últimas exercem poder e influência, mas não há como negar que o regime democrático está mais estável e que o combate à corrupção, no Brasil, apresenta uma evolução positiva”, diz trecho da obra.
O projeto parte desse resultado ao “aperfeiçoamento” do modelo de educação, pública e privada. “Os currículos foram ‘desideologizados’ e hoje são constituídos por avançados conteúdos teóricos e práticos, inclusive no campo social, reforçando valores morais, éticos e cívicos e contribuindo para o progressivo surgimento de lideranças positivas e transformadoras. O crescimento dos movimentos sociais de combate à corrupção teve frutos benéficos, pois a sociedade os apoiou e muitos atraíram as citadas lideranças transformadoras, permitindo saltos de qualidade e de eficácia no combate à corrupção”.
Ainda conforme a publicação, no período, houve o “enfraquecimento das correntes políticas de ideologias radicais, reduzindo a cisão social e aumentando a coesão nacional”.
Como se olhasse em perspectiva histórica, o “Projeto de Nação” diz que o governo brasileiro passou a cobrar, em 2025, indenizações pelos serviços prestados, exclusivamente das pessoas cuja renda familiar fosse maior do que três salários mínimos. “Essa medida encontrou forte resistência, especialmente a oposição política, mas atualmente comprova-se que não somente trouxe mais recursos para o SUS como também racionalizou atividades e procedimentos — o que contribuiu para o aperfeiçoamento da gestão”.
A obra ainda defende a cobrança de mensalidade nas universidades públicas. “Um marco importante para a melhoria de desempenho das universidades públicas, mas que sofreu forte resistência para vingar, foi a decisão de cobrar mensalidades/anualidades, segundo critérios que levaram em conta a renda pessoal do aluno e ou de seu responsável, o número de alunos sob o mesmo responsável, a concessão de bolsas a alunos de camadas carentes e para os de elevado nível de desempenho”.
Lançado no último dia 19, com a presença, entre outros, do ex-comandante do Exército General Eduardo Villas-Bôas, um dos idealizadores do documento, o projeto foi apresentado ao som da música “Eu Te Amo, Meu Brasil”, a mesma que tocava durante os anos 70 para celebrar a ditadura militar no país. “Certamente, aqui está uma parcela importante do pensamento estratégico do Brasil”, disse o ex-comandante do Exército em discurso lido por sua esposa, Maria Aparecida Villas Bôas, do Instituto General Villas Bôas (IGVB).
Com Congresso em Foco